Como documentar seu trabalho de UX Writing?

Natália Alves
Loggi
Published in
5 min readDec 16, 2019

--

Confiar na memória é um pouco vida loca. É bem melhor ter certeza de tudo que você escreveu ou pesquisou

Foto por SJ Baren, do Unsplash

Eu tenho uma memória bem ruim e uma grande nóia minha é esquecer as coisas que preciso fazer no trabalho, assuntos que já discuti e decisões que já foram tomadas.

Isso me fez ser adepta da técnica milenar de anotar absolutamente tudo.

Eu levo isso para todos os âmbitos da vida: tenho um caderno para compromissos pessoais, um outro para listas de compras, anotações de cursos, consultas médicas, tarefas e reuniões do trabalho, bloquinho de pesquisa... É bastante papel.

Documento é memória

Nós só acumulamos o conhecimento que a humanidade tem hoje porque documentamos descobertas, saberes e ciências no decorrer dos milhares de anos que estamos aqui na Terra. Imagina tudo isso solto nas nossas cabeças? Como passar adiante? Pensando assim, parece óbvio dizer que documentar coisas é super importante, não?

Pois aparentemente não é tão óbvio.

Outro dia eu tava no WhatsApp, conversando com as mulheres do grupo “UX Writing das minas” e reparei que nem todo mundo que trabalha com Writing documenta o que escreve, pesquisa, descobre, valida ou invalida.

Startup tem memória curta

Uma colega desse grupo contou que na empresa em que trabalha os UIs (Designers de Interação) usam o InVision para colocar as telas do app e ela fica ali, comentando nas interfaces, discutindo com os colegas e mudando o texto ao vivo.

Parece bem colaborativo, né? Porém, não. Imagina só: se alguém mudar algum microtexto, por menor que seja, adeus versão anterior. O processo de evolução se perde. A gente fica às cegas, sem entender qual era a versão anterior, por qual razão houve a mudança, qual foi o racional e, fora isso, não conseguimos levar adiante o conhecimento para futuros colegas de equipe.

O InVision é ótimo para prototipagem, mas ferramentas de prototipagem não são documentação de Writing.

Uma das coisas que a Mariane Lorente, que é nossa UX Writing Manager na Loggi, mais repete para a gente é: mantenha a documentação atualizada. Aqui na Loggi, a gente vai no simples e funcional. Usamos o Google Drive para anotar tudo que escrevemos, nossos racionais, testes de usabilidade e descobertas de pesquisas.

Mais do que ter a tela final aqui ou ali, é importante que a gente consiga contar a história do produto que estamos trabalhando. Argumentar sobre o que mudou, por qual motivo e como tudo está agora.

Nosso primeiro fluxo de Writing na Loggi

A Mari foi a primeira Writer que chegou na Loggi, quando tudo era mato & lorem ipsum. Nesse cenário de “euquipe” a coisa mais importante era criar uma documentação que explicasse para os designers UIs e UXers como o fluxo de trabalho de Writing ia funcionar e qual tipo de documentação precisávamos.

Ela criou esse diagrama para explicar o fluxo:

Como só tinha ela de UX Writer por aqui, havia um board genérico do Jira no qual ela conseguia organizar as tarefas e, depois, documentar o que tinha feito, com links para o Google Docs.

Hoje todos os squads da Loggi usam o Jira para organizarem as tarefas da sprint, geralmente usando uma mistura das metodologias Scrum e Kanban. Os Writers que estão alocados nas squads têm suas tarefas descritas no board do time, assim como os UXers e os UIs também.

Como documentamos hoje na Loggi

Agora que o time cresceu (somos quatro UX Writers), mantemos um padrão de documentação que nos ajuda a ter o histórico de mudanças e do racional que seguimos. Tudo isso dentro de um mesmo documento do Google Docs.

Primeiro, situamos o leitor do documento no tempo e no espaço:

É legal falar quem escreveu, quando escreveu, sobre o que é e onde tem mais informação sobre o tema.

Na sequência, a gente pincela rapidinho algumas informações sobre o fluxo de telas em que estamos trabalhando. Isso varia de caso para caso, nem sempre é necessário.

Importante: os textos da imagem acima ainda são a protocópia que o UI usou de marcação para a tela.

Por fim, chega a hora de fazer o “de: para” dos microtextos, que é o processo de contar como estava antes e como nós sugerimos que o texto seja.

Algumas vezes eu crio uma terceira coluna com o título “por quê?” e uso para explicar as decisões que são mais sensíveis ou polêmicas — ou quando quero comprar alguém sobre a importância do meu trabalho, risos.

Também tem o modelo abaixo, que a gente usa quando descobre que deve mudar algo depois de um primeiro teste de percepção/usabilidade dos textos.

Além do mais, Google Docs é democrático

Documentar em uma ferramenta na nuvem é bom porque é um jeito de dividir o racional com todo mundo da empresa. Qualquer um pode entrar no seu arquivo e comentar com uma crítica ou sugestão.

Só é bom prestar atenção em uma coisa: deixar sempre o arquivo configurado no modo “só comentar”. Afinal, se as pessoas puderem editar e apagar o que você escreveu não adianta nada manter o histórico.

Como documentamos testes, pesquisas e afins

Como nem só de escrita vive o UX Writer da Loggi, a gente mapeia muito fluxo, faz bastante teste de usabilidade e estamos sempre em pesquisa.

Acho que é mais fácil encontrar frameworks de documentação desses materiais, então vou listar abaixo as ferramentas que a gente usa.

  • Google Docs: para anotações rápidas, decisões em reunião, planejamento e roteiro de pesquisa;
  • Google Apresentações: para resultados de pesquisa, descobertas, aprendizados, resultados de workshops;
  • Google Planilhas: para mapear fluxos mais simples, tabular resultados de pesquisa, bases de contato, réguas de comunicação, fazer análise de dados;
  • Miro: para mapear matrizes de decisão, fluxos de tela, processos internos, réguas de comunicação.

InVision, Sketch e outras ferramentas de prototipagem são só para a gente rodar testes e compartilhar as telas dentro da squad, com Engenheiros e Product Managers. Para manter o histórico e contar uma bela história no fim dos projetos, nós usamos o que listei acima.

→ Quer fazer parte do grupo de WhatsApp “UX Writing das minas”? Escreve para mim que eu envio o link do grupo para você.

--

--